Sunday, June 11, 2006

Cortina azul




Empurram a porta e fazem com que não bata, espreitam a cortina.
Noite feita de restos de vidro e de lata, e os olhos que não dormem, tão tontos estão que acabam por cegar.
Andam por aí à nora, cambaleiam nos caminhos da sorte, pobres coitados, ou felizes então, que não sabem como as coisas são. É uma ignorância com sabor a chá de menta : fluidifica a circulação e liberta os pulmões, falsa sensação de conseguir respirar melhor.
Existe uma inexorável distância na bifurcação da estrada de retorno. Acabam por nunca sair da encruzilhada, caminham para lado nenhum, os pés enterrados no mesmo lugar. Não há ninguém à sua espera, ninguém para celebrar o seu regresso. Num fulgor adormecem na preguiça, nada mais que desejos sem notícia, vontades desprovidas de amanhãs ou dias seguintes.
Recolhem-se e usam o que restou das forças para ficarem quietos. Dentro das casas acumularam-se entretanto camadas de pó arrumadas pelos cantos. E a única janela aberta para o mundo está tapada por uma cortina azul.

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