Thursday, June 28, 2007

Língua salgada


Sabíamos do mar sem o sabermos,

do mar dos mapas, da cor azul do mar,

dos naufrágios no mar,

do sol solto no mar.

Sabíamos do mar sem o sentirmos

nos poros dilatados pelo mar,

o verdejante mar escalando as montanhas

tão bruscas como o sal.

Sabíamos do mar em sinuosos sinos

assinalando a noite

com corações arrepiados,

abertos como mãos

sulcadas de cabelos e molhadas

de rugas e escamas.

Sabíamos do mar em signos, símbolos,

tropos e metáforas.

Sabíamos do mar?

Sabíamos o mar.

Sabíamos a mar


António Rebordão Navarro

O Inverno

Poemas (1952 - 1982)

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