Sunday, July 29, 2007

Claridade(s)


Pela noite à eterna dor se chega

cruel é a terra, diversa terra

quando teu rosto se esvai

e a névoa com voz de pranto

cai jamais leve sobre nós.

De breve uso, cresce no peito

uma tímida pálida alegria

precioso corpo luz, borboleta

de asas nítidas e tranquilas

que vigia o coração dos mortos.

Diz-me secretas brandas palavras

porque sou refúgio e escombro

de um vasto dia, áspero exílio

nas suaves sílabas de precisos

e curvos juncos, clarão sem sol.

Desce então pelo fulgor da luz

espírito suspenso em minhas mãos.

A espera é movimento cego.

Desce, sonâmbulo, extenso amor.

Ana Marques Gastão

Nocturnos

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