Monday, August 06, 2007

7 e meia da tarde


Atropelam-ses rios em demanda do mar; verga-se

as costas ao chicote das ondas. Os espinheiros

que crescem sobre as dunas iniciam as aves

nas punições do mundo. Quem se encosta

ao ombro descarnado da falésia vê o fantasma

da morte acenar-lhe do abismo; e o mesmo sol

que ofende os muros em ruínas e açoita os pontões

humilha os deuses e desafia os homens. Por isso,

ao poente, se alguém risca no dorso das areias

novas nomenclaturas, explodem no céu dilúvios

e tormentos, que desfraldam as velas, invertem

as marés, desatinam as bússolas e confundem

quem vai ao leme sobre o recorte das arribas.

(Mas se há naufrágio guarda-se segredo da tragédia

nos arquivos das estrelas - que o vento vem de noite

aos ossos dos navios dar destino à paisagem e

contorno á mentira.) Aqui acaba a terra; e uma pátria

como esta não se submete sem revolta à espessura

da página, nem se escreve a cores na cegueira dos mapas:

subsiste apenas nos retratos efémros de quem subiu

à escarpa e, iludindo a arquitectura da luz, espreitou

impunemente no decote do mundo e lhe arrancou a alma.

Maria do Rosário Pedreira

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